
“Ninguém fica num local apenas por causa do salário, mas a sua permanência é também pela capacidade de enxergar a finalidade positiva do que faz, do reconhecimento que obtém, do bem estar que sente quando seu trabalho é valorizado e se percebe ali a possibilidade de futuro conjunto“
Mário Sérgio Cortella
Um problema de todos
Muda o CNPJ, mas alguns problemas nunca mudam. Falta de engajamento é um desses problemas; um problema comum a todas as empresas. O desengajamento está ligada ao novo mundo. O mundo mudou. Mudou porque as pessoas mudaram. E mudou muito antes da chegada desse tal “novo normal”.
Se as pessoas são responsáveis pelas grandes alterações no mundo, por que seria diferente com as empresas? Bem, não é diferente. Empresas são feitas de pessoas, para pessoas e por pessoas!
O novo mundo é baseado em: propósito, significação e coerência.
O propósito
Todos precisamos trabalhar. Porém, ao contrário do passado, onde o trabalho era, exclusivamente, fonte de renda, atualmente as pessoas querem fazer parte de uma organização que esteja alinhada com seus propósitos e ideais. Hoje coloca-se na balança se determinada empresa agrega valor pessoal e profissional e se possibilita equilíbrio entre a vida pessoal e profissional.
O significado
Além disso, quando iniciamos nossas atividades desejamos mais do que a recompensa salarial no final do mês. As pessoas querem enxergar que o papel que desempenham têm significado e faz real diferença nos resultados da empresa. Eles querem ser reconhecidos!
A coerência
E, por último, desejamos mais do que missões vazias estampadas nas paredes. A sociedade acompanhou de perto as crises de imagem e de credibilidade que nosso país enfrentou (e continua enfrentando). Essa sociedade se tornou mais atenta e exigente. Não basta parecer, é preciso ser.
Ausência de propósito, de significação e de coerência dificulta (e muitas vezes até impede) o engajamento dos colaboradores. A falta de engajamento impacta diretamente no resultado das empresas, ocasionando:
- Baixa produtividade
- Aumento no índice de turn over
- Clima organizacional tóxico
- Menor potencial de inovação
- Custos elevados
Um único colaborador desengajado custa mais caro do que você imagina. Custa caro financeiramente:
- Seu baixo desempenho culmina na redução de lucros da empresa.
E custa caro em reputação, cujo valor é inestimável.
- Todos os colabores são mensageiros das empresas. Se um colaborador feliz impacta dez pessoas, um colaborador desengajado e infeliz, certamente impactará o dobro.
Não engajar um colaborador significa:
- Perder a oportunidade de, com ele, fazer a empresa a crescer
- Desperdiçar seu talento
O maior ativo das organizações são as pessoas que a constroem diariamente. Logo, as pessoas devem ser o centro de todas as estratégias. Enquanto insistirmos em não ver e ouvir as pessoas, elas continuarão desengajadas. E, dia após dia, estaremos assinando atestados de ruína das empresas.
Engajar ou motivar? Eis a questão!
“Motivação é o impulso para começar algo. Engajamento é a força para terminar de forma bem feita o que foi iniciado”.
Daniel Costa
A motivação é uma força, uma energia que nos impulsiona, é um motivo para a ação. Ela é intrínseca, isto é, está dentro de nós, nasce de nossas necessidades interiores.
Todos temos motivações. Nossas motivações, porém, não podem ser comparadas. As pessoas têm valores, crenças, experiências, culturas e interesses diferentes. A história de vida de cada um é que condiciona suas motivações.
O engajamento, por outro lado, diz respeito à coletividade. É o que leva a alcançar um objetivo comum à organização. Quando estão engajadas, as pessoas alinham seus interesses com os da empresa e auxiliam na busca de uma solução. Ou seja, cada colaborador entende que faz parte de algo maior, um sistema de engrenagens que somente funciona se todos estiverem focados e dispostos a atingir a mesma meta.
Nós precisamos escolher engajamento ou motivação? Que tal escolher os dois? Motivar e Engajar?
Escolha se motivar e ajudar os outros e encontrarem suas motivações. Escolha engajar equipes e mudar o ambiente de trabalho.
O elefante na sala
“Não importa o que você comercialize ou o serviço que ofereça, o negócio do seu negócio são as pessoas. Cuide delas e elas cuidarão do seu negócio”
Hugo Bethlem
Antes de começarmos a pensar em como engajar nossos colaboradores devemos entender o cenário. Você sabia que o Brasil é o quinto país do planeta com maior número de casos de depressão? Assustador, não?
Aqui estão outras informações impactantes sobre a nossa relação com o trabalho:
- Cerca de 90% das pessoas estão infelizes em seus trabalhos
- Os transtornos mentais e emocionais são a segunda causa de afastamento do serviço
- Nos últimos dez anos, a concessão de auxílio-doença acidentário devido a esses males aumentou em quase em 20 vezes
- Em todo o mundo, os gastos relacionados a transtornos emocionais e psicológicos podem chegar a 6 trilhões de dólares até 2030
- Em nosso país os transtornos mentais são a terceira causa de longos afastamentos do trabalho por doença. Em 2011, eles foram responsáveis pelo pagamento de mais de 211 milhões de reais a novos beneficiários
- Os supervisores gastam em média mais de quatro horas por semana lidando com as faltas não programadas, o que inclui fazer recolocações, ajustar o fluxo de tarefas e dar treinamento a quem irá assumir a função por aquele dia
- Quando cobrem alguém, os superiores ficam 15% menos produtivos e os colegas, 30%. Quase metade das ausências reflete-se em horas extras dos que ficam
- 96% das pessoas que têm burnout se sentem incapacitadas para trabalhar. Mesmo assim, 92% continuam indo para a empresa, com medo de serem demitidas ou de se afastarem e não conseguirem voltar
- A Organização Mundial da Saúde alerta que uma em cada quatro pessoas sofrerá com um transtorno da mente ao longo da vida
Engajar os colaboradores mediante a esse quadro é desafiador. Engajar colaboradores em meio a uma pandemia é ainda mais complexo. Mas é, sem dúvida, um desafio que vale a pena assumir tendo em mente não apenas o lucro (empresas com colaboradores engajados enriquecem mais), porém com um olhar humano que deseja transformar o contexto de infelicidade no trabalho.
Humanize-se
“Boas relações humanas geram felicidade e resultados”
Susanne Andrade
Não é porque a maioria das empresas, sejam elas grandes ou pequenas, estão despreocupadas com o bem estar dos funcionários que você deve seguir seus passos. Pelo contrário! Investir em saúde emocional diante do cenário de crise é ganhar vantagem competitiva e se destacar no mercado.
Uma das maneiras para minimizar os efeitos do estresse que enfrentamos diariamente e conquistar o engajamento é optar pela colaboração ao invés da competição. Susanne Andrade afirma que a alta competitividade e a pressão por resultados têm contaminado o ambiente de trabalho e impactado a saúde dos profissionais.
Mas há caminhos para se contrapor a esse cenário e oferecer aos colaboradores projetos mais humanos sem abrir mão da produtividade.
Ela afirma que:
“as empresas que mais têm crescido hoje são as empresas que são mais colaborativas. São empresas que são movidas a propósito e entendem qual é o sentido daquilo que ela está fazendo. E aí sim o clima é muito mais leve. E os processos acabam fluindo e os resultados vêm”.
A consultora defende a ideia de que é possível alcançar melhores resultados em menor tempo tendo como objetivo a busca da simplicidade. De acordo com Susanne:
“a simplicidade está justamente em parar para valorizar mais as pessoas e entender que as pessoas é que vão gerar mais resultados”.
De acordo com pesquisa da Gallup, citada por Susanne no programa Mundo Corporativo da Rádio CBN, mais de 50% dos trabalhadores saem das empresas por problemas de relacionamento com seus líderes. Logo, uma das ferramentas que precisa urgentemente ser desenvolvida e praticada pela liderança e seus colaboradores é a comunicação. Segundo a consultora:
“a comunicação, eu diria, é a principal habilidade não técnica. Hoje, o profissional saber se comunicar de maneira mais assertiva, com mais simplicidade, respeitando o outro que está no outro crachá, é importante”.
A comunicação é essencial na busca pelo engajamento dos colaboradores. Não a comunicação com a qual fomos acostumados, de processos e retrabalhos, mas aquela baseada no respeito e na escuta.
Para engajar colabores precisamos enxergá-los como os indivíduos que são. A partir do momento em que os reconhecemos como seres humanos começaremos a praticar, efetivamente, a comunicação humanizada.
Na prática
Todos estamos buscando nos adaptar a este novo cenário. Um cenário que, diferente do momento anterior, não possibilita que líderes e liderados estejam num mesmo ambiente. Contudo, o diálogo e o olho no olho (mesmo a distância) ainda são possíveis (e primordiais).
Aqui vão algumas dicas para manter a equipe e os colaboradores engajados:
- Seja empático
Nós até podemos estar vivenciando situações semelhantes, momentos parecidos. Mas a realidade de cada um é absolutamente individual. Não estamos no mesmo barco! Por isso, procure entender e se colocar no lugar do seu colaborador. - Seja transparente
Nunca houve, e agora há menos ainda, espaço para mentiras. Não podemos dar voz à fofocas ou fomentar conflitos. A empresa e os líderes têm o dever de dar as notícias, sejam elas boas ou ruins. As informações precisam levar verdade e segurança aos colaboradores. - Preste atenção no seu colaborador
Não se trata da atenção de cobrança. Se trata da atenção comportamental. Fique atento se o colaborador está entregando, se ele está produzindo ou se, por algum motivo, está cometendo erros repetidamente. Entenda o motivo e se proponha a ajudá-lo. - Dê feedbacks
Estamos todos improvisando, essa é a verdade. Ninguém lidou com nada disso (ou com tudo isso, simultaneamente) antes. Portanto, oriente os colaboradores para que eles tenham luz a respeito de como estão se saindo, aspectos a melhorar, dentre outros. E sempre incentive!
- Sobrecarga não é legal
Eu sei que existem metas. Da mesma forma que sei o quão mal faz a sobrecarga a qualquer ser humano. Permita-se bater um papo com os colaboradores, com a equipe e os escute! Verifique se eles se sentem confortáveis com a quantidade de atividades.
É claro que existem outros caminhos, outras possibilidades para engajar colaboradores de acordo com cada cultura organizacional. O importante é defini-las, é descobri-las, desenvolvê-las e trabalhá-las. Não podemos desistir. Não podemos consentir com a infelicidade no trabalho; seja ele remoto ou presencial, seja dentro da empresa, ou dentro de casa.